IMPORTANTE: não tentem fazer isso em casa! Todas as fórmulas que serão descritas nessa série de postagens são para fabricação por profissionais da área. Fizemos as mesmas na faculdade sob supervisão de um professor.
Xaropes
Soluções
orais são soluções para a administração oral. Para se obter uma solução
farmacêutica, o fármaco deve solubilizar-se completamente no veículo escolhido;
para que isto ocorra o fármaco deve ter comportamento semelhante ao do
solvente. Deve-se pesquisar antes do preparo de uma solução, as características
físico-químicas dos fármacos e veículos a serem utilizados, verificando a
solubilidade, a possibilidade de alterações com o decorrer do tempo, a
necessidade de adjuvante, a necessidade de aquecimento (muitas vezes temos que
aquecer o solvente para acelerar ou possibilitar a solubilização do soluto), a
faixa de pH de maior solubilidade, o conhecimento do pKa (é o pH no qual as
formas ionizadas e não ionizadas de uma substância estão em proporção igual) da
droga e das suas características ácido-base (ex.: se é um ácido fraco ou base
fraca).
Podem
conter um ou mais ingredientes ativos dissolvidos em água ou em um sistema
água-solvente. Podem conter adjuvantes farmacotécnicos, para prover maior
estabilidade (ex.: antioxidante, tampões, agentes sequestrantes e conservantes),
palatabilidade (ex.: edulcorante e aromatizantes) e viscosidade. Tipos de
soluções orais:
ü Xaropes
ü Elixires
ü Linctus
ü Misturas
(soluções orais + suspensões)
ü Gotas
orais
Vantagens
das soluções orais:
ü Os
princípios ativos veiculados nesta forma são mais rapidamente absorvidos pelo
trato gastrointestinal do que os mesmos quando veiculados em cápsulas ou
comprimidos
ü São
de mais fácil deglutição que é uma condição importante para pacientes
pediátricos ou geriátricos ou ainda, para aqueles com condições crônicas, tais
como, a doença de Parkinson, que dificulta a deglutição de formas farmacêuticas
sólidas
ü Homogeneidade
na dosificação, independente da agitação quando comparada à forma de suspensão
ü Possibilidade
de adição de co-solventes para princípios ativos pouco solúveis no veículo
principal
Desvantagens
das soluções orais:
ü Para
o paciente, as formas farmacêuticas líquidas são mais difíceis de transportar
do que as formas sólidas
ü Apresentam
menor estabilidade físico-química e microbiológica, do que as formas sólidas
(ex.: são mais vulneráveis a reações de hidrólise)
ü A
solubilização realça o sabor dos fármacos, portanto, para princípios ativos com
sabor desagradável, esta forma farmacêutica pode ser inadequada
ü O
paciente, muitas vezes, não tem acesso a acurados sistemas de medida de volume
uniforme, ou seja, o volume administrado de uma dose pode variar em relação à
outra e em relação ao recomendado
ü O
sistema de medida caseira não é preciso, as colheres de um mesmo tipo podem
possuir diferentes tamanhos
Xaropes são
formas farmacêuticas preparadas à base de açúcar e água, onde o açúcar está
próximo à saturação, formando uma solução hipertônica. A proximidade da
saturação, evita a precipitação do açúcar utilizado. São soluções límpidas,
aquosas e não estéreis de consistência viscosa e densos, apresentando
densidades entre 1,30 e 1,3. São compostos por açúcares, como a sacarose, em
concentração próxima à saturação, conferindo valor energético ao medicamento e
com função edulcorante e conservante. Nunca devem apresentar álcool na
composição.
O
fato do xarope apresentar concentração de açúcar quase igual a concentração
necessária para ocorrer a saturação é porque assim a disponibilidade de água é
pouco, diminuindo a possibilidade de contaminação microbiana. Caso o xarope
apresentasse saturação, poderia ocorrer um precipitado, resultado indesejável
uma vez que diminui o efeito do conservante. Quando a quantidade de açúcar é
insuficiente, pode ocorrer a fermentação, já que microrganismos encontram um
meio ideal para se desenvolver. Aquecimento em demasia causa hidrólise da
sacarose, com precipitação de açúcar invertido e perda de água pela evaporação.
Quando
não se destinam ao consumo imediato, devem ser adicionados conservantes
antimicrobianos. Alguns fatores contribuintes que podem interferir na qualidade
do medicamento são agentes atmosféricos (oxigênio e gás carbônico); calor, que
pode causar a hidrólise e caramelização da sacarose; exposição à luz,
responsável pela catálise diversa e a proliferação bacteriana.
A
utilização de xaropes é importante pela facilidade da aceitação na área
pediátrica, minimiza o gosto desagradável de um possível fármaco na fase
líquida, pode ser nele incorporada qualquer substância hidrossolúvel estável em
solução aquosa e são considerados um bom veículo de administração de fármacos
antitussígenos e anti-histamínicos. Os flavonizantes, presentes nos xaropes,
são produtos sintéticos ou naturais que conferem sabor agradável
(edulcorantes), já os corantes, às vezes utilizados, tornam o xarope mais
atraente, mas devem combinar com o flavinizante, não apresentar reatividade,
ser estável em relação ao pH e as condições de intensidade de luz.
Vantagens
dos Xaropes:
ü Boa
conservação: por serem hipertônicos, desidratam os microrganismos que sofrem
plasmólise
ü São
apropriados para fármacos hidrossolúveis
ü Possibilitam
a correção de sabor da formulação (efeito edulcorante)
Desvantagens:
ü O
xarope oficinal (à base de sacarose) e as formulações magistrais preparadas com
o mesmo, são contra-indicadas para pacientes diabéticos (para estes pacientes
deve ser utilizado o xarope dietético).
Os
xaropes podem ser produzidos a quente (há o aquecimento do xarope) e a frio
(sem aquecimento do xarope).
Xaropes
a quente:
Vantagens:
ü Dissolução
rápida do açúcar
ü Esterilização
ü Eliminação
do gás carbônico que provoca hidrólise da sacarose
ü Eliminação
de microrganismos
Desvantagens:
ü Não
indicado para substâncias voláteis
ü Xaropes
amarelados pela caramelização do açúcar
ü Temperaturas
muito altas causam hidrólise da sacarose, produzindo açúcar invertido (dextrose
e frutose), alterando o dulçor (mais doce), mais escuro e mais suscetível a
contaminação microbiana (caramelização da sacarose)
Xarope
a frio:
Vantagens:
ü Evita
a inversão da sacarose
ü Maior
estabilidade
Desvantagens:
ü Não
destrói os microrganismos presentes na água ou na sacarose
ü Xarope
menos corado
ü Processo
de produção mais demorado
Fatores
que podem desencadear a alteração dos xaropes:
ü Agentes
atmosféricos (oxigênio e anidrido carbônico)
ü Aquecimento
(facilita hidrólise e a caramelização da sacarose, e alteração do fármaco).
Açúcar invertido = 1mol glicose + 1mol frutose
ü Exposição
à luz (alteração dos fármacos, catálise)
ü Interações
dos componentes do xarope (reação entre os fármacos, adjuvantes e sacarose)
ü Proliferação
microbiana (adição de conservantes: metil e propilparabenos)
Para
ser caracterizado como xarope a solução precisa ser uma preparação aquosa
caracterizada pela alta viscosidade, que apresenta não menos que 45% (p/p) de
sacarose ou outros açúcares na sua composição. Os xaropes geralmente contém
agentes flavorizantes.
O
xarope deve ser embalado e armazenado em recipientes adequados, de vidro de
âmbar, ao abrigo da luz e à temperatura ambiente. Sua validade quando mantido
em ambiente seco e à temperatura ambiente é de cerca de 3 meses. Acondicionamento:
ü Frascos
de vidro vedados com batoque e tampa
ü Temperatura
de armazenagem
·
estabilidade de componentes termossensíveis
·
evaporação da água e subsequente condensação
forma, na superfície,um filme de água propício ao crescimento de microrganismos
ü Frascos
com capacidade adequada ao volume acondicionado:
·
diminuição do ar minimiza efeitos de oxidação
da formulação
diminuição do espaço
vazio minimiza a área de evaporação da água e melhora característica de
conservação microbiana
Vamos preparar três soluções: um xarope simples, um xarope de iodeto de potássio e um
xarope diet. O que iremos usar?
Xarope simples
sacarose
.................................... 85%
água destilada
............ q.s.p.* ..... 100ml
Xarope de iodeto de potássio
iodeto
de potássio ............. 3,0g
ácido
cítrico ...................... 1,0g
metilparabeno
................... 0,1g
xarope
simples ....... q.s.p.* .... 100ml
Xarope diet
CMC
...................................... 1%
glicerina
.................................. 5%
sacarina
................................... 0,05%
benzoato
de sódio .................. 0,3%
essência
............................... q.s.
corante
................................... q.s.
água
destilada ........ q.s.p.* ... 100ml
* q.s.p. = quantidade suficiente para
Mas, afinal, para que serve cada um destes produtos?
Mas, afinal, para que serve cada um destes produtos?
ü Sacarose – agente doador de viscosidade (agente espessante), conservante contra o crescimento microbiológico e edulcorante
ü Iodeto de potássio – estabilizante
ü Xarope simples – usado com veículo
ü Água destilada – usada como veículo
ü Ácido cítrico – substância usada como eflorescente, antioxidante sinergista ou acidulante (agente acidificante)
ü Nipagin (metilparabeno) – conservante antifúngico
ü CMC (carboximetilcelulose) – agente suspensor (agente doador de viscosidade, utilizado para reduzir a velocidade de sedimentação de partículas (drogas) dispersadas em um veículo no qual elas não são solúveis) ou agente floculante (utilizado com o objetivo de evitar a formação de agregados ou flocos)
ü Glicerina – em formulações tópicas e cosméticas, a glicerina é utilizada por suas propriedades umectantes e emolientes. Em formulações parenterais (injetáveis) é principalmente utilizada como solvente. Em formulações de uso oral a glicerina é utilizada como agente edulcorante, antimicrobiano e doador de viscosidade.
ü Sacarina – agente edulcorante não-calórico usado para adoçar (edulcorar) preparações farmacêuticas
ü Benzoato de sódio – conservante antifúngico
ü Essência – composição aromática
ü Corante – usado para dar cor às preparações farmacêuticas
Xarope simples
Começamos
calculando quanta sacarose iremos usar para preparar o xarope (o professor
pediu para que preparássemos 50ml de solução ao invés de 100ml).
50ml
– 100%
x – 85%
x = 42,5 g
Pesamos 42,5g de sacarose em um béquer e
solubilizamos em um pouco de água destilada (devemos tomar cuidado para não
passar de 50ml). Depois de solubilizada a sacarose na água, levamos o béquer
para a chapa de aquecimento (importante: o aquecimento não pode passar de 70° -
75°C, se a temperatura passar desse intervalo acontece a hidrólise do açúcar e
gera o açúcar invertido, e perdemos todo o xarope que estamos preparando).
Quando a sacarose com água ficou viscosa e translúcida, tiramos o béquer da
chapa e vertemos o conteúdo em um cálice. Completamos o q.s.p. para 50ml com
água destilada. A nossa solução ficou pronta.
Xarope de iodeto de potássio
Como
o professor nos pediu para preparar 50ml de xarope de iodeto de potássio, vamos
usar metade dos valores pedidos para cada matéria-prima: ü Iodeto
de potássio à
1,5g
ü Ácido
cítrico à
0,5g
ü Nipagin
(metilparabeno) à
0,05g
ü Xarope
simples à
q.s.p. 50ml
Pesamos
todas as matérias-primas. Aproveitamos que o xarope simples estava um pouco
quente e solubilizamos o nipagin nele em um cálice. Depois solubilizamos o
iodeto de potássio e o ácido cítrico no cálice com o nipagin solubilizado no xarope
simples. Completamos as 50ml de xarope simples e homogeneizamos. Assim, obtemos
a solução que nos foi pedida.
Xarope diet
Nessa
formulação não precisamos calcular quanto de cada matéria-prima precisamos
pesar porque o q.s.p. é para 100ml, então a porcentagem descrita acima é o
valor de gramas que devemos pesar. Então devemos pesar: ü CMC à 1g
ü Glicerina
à 5g
ü Sacarina
à
0,05g
ü Benzoato
de sódio à
0,3g
ü Água
destilada à
q.s.p. para 100ml
Depois
de todas as matérias-primas pesadas, trituramos o CMC em um gral de vidro.
Depois colocamos a glicerina junto do CMC e solubilizamos (preparamos uma
gominha). Em um béquer solubilizamos a sacarina e o benzoato de sódio em
aproximadamente 50ml de água destilada. Vertemos a sacarina e o benzoato
solubilizado na água para o gral com o CMC e a glicerina. Homogeneizamos bem
para não ficar nenhum grumo (se o CMC não for bem solubilizado forma grumos, o
que não é interessante para a formulação de um xarope).
Vertemos
o conteúdo do gral para um cálice e completamos as 100ml com água destilada.
Homogeneizamos. Por último adicionamos a essência e o corante, homogeneizando.
Obtemos a solução que nos foi pedida pelo professor.
Observação:
nesse xarope usamos a sacarina no lugar da sacarose, porque esse tipo de xarope
é para pessoas diabéticas. Essas pessoas não podem ingerir açúcar, por isso não
podemos usar a sacarose.
oi estou fazendo um relatório sobre xaropes e a profe pediu pra responder a seguinte pergunta
ResponderExcluirPor que é desnecessária a adição de conservante em xaropes de iodeto?
eu não acho em lugar nenhum uma resposta! vc saberia responder?
obrigada
Janaina, já faz mais de anos que estudei a parte de farmacotécnica, mas se não estou muito enganada, em xaropes de iodeto não há necessidade de adicionar conservantes devido ao fato do iodeto já ter ação antimicrobiana (que conserva o produto, dispensando então o uso de outro conservante).
ExcluirPrimeiramente a concentração do xarope desfavorece o crescimento de bactérias. E o segundo ponto é que a presença do nipagin (conservante) favorece ao não crescimento de fungos também. É preciso pensar que a formulação é sempre tão concentrada que torna-se impossível a sobrevivência de micro-organismos. Contudo, após a abertura do frasco, existem outros fatores que podem ser necessários determinados cuidados e alterações na formulação.
ExcluirOBRIGADA PELA INFORMAÇÕES, ME FORAM MUITO ÚTEIS. NOS MEUS ESTUDOS.
ResponderExcluir=)
Excluir