sábado, 21 de março de 2015

Fórmulas Magistrais #4 - Xaropes

     Hoje é dia de conhecermos a quarta publicação da série sobre fórmulas magistrais: os xaropes. Aproveite e boa leitura!

     IMPORTANTE: não tentem fazer isso em casa! Todas as fórmulas que serão descritas nessa série de postagens são para fabricação por profissionais da área. Fizemos as mesmas na faculdade sob supervisão de um professor.

Xaropes

Soluções orais são soluções para a administração oral. Para se obter uma solução farmacêutica, o fármaco deve solubilizar-se completamente no veículo escolhido; para que isto ocorra o fármaco deve ter comportamento semelhante ao do solvente. Deve-se pesquisar antes do preparo de uma solução, as características físico-químicas dos fármacos e veículos a serem utilizados, verificando a solubilidade, a possibilidade de alterações com o decorrer do tempo, a necessidade de adjuvante, a necessidade de aquecimento (muitas vezes temos que aquecer o solvente para acelerar ou possibilitar a solubilização do soluto), a faixa de pH de maior solubilidade, o conhecimento do pKa (é o pH no qual as formas ionizadas e não ionizadas de uma substância estão em proporção igual) da droga e das suas características ácido-base (ex.: se é um ácido fraco ou base fraca).
Podem conter um ou mais ingredientes ativos dissolvidos em água ou em um sistema água-solvente. Podem conter adjuvantes farmacotécnicos, para prover maior estabilidade (ex.: antioxidante, tampões, agentes sequestrantes e conservantes), palatabilidade (ex.: edulcorante e aromatizantes) e viscosidade. Tipos de soluções orais:
ü  Xaropes
ü  Elixires
ü  Linctus
ü  Misturas (soluções orais + suspensões)
ü  Gotas orais

Vantagens das soluções orais:
ü  Os princípios ativos veiculados nesta forma são mais rapidamente absorvidos pelo trato gastrointestinal do que os mesmos quando veiculados em cápsulas ou comprimidos
ü  São de mais fácil deglutição que é uma condição importante para pacientes pediátricos ou geriátricos ou ainda, para aqueles com condições crônicas, tais como, a doença de Parkinson, que dificulta a deglutição de formas farmacêuticas sólidas
ü  Homogeneidade na dosificação, independente da agitação quando comparada à forma de suspensão
ü  Possibilidade de adição de co-solventes para princípios ativos pouco solúveis no veículo principal

Desvantagens das soluções orais:
ü  Para o paciente, as formas farmacêuticas líquidas são mais difíceis de transportar do que as formas sólidas
ü  Apresentam menor estabilidade físico-química e microbiológica, do que as formas sólidas (ex.: são mais vulneráveis a reações de hidrólise)
ü  A solubilização realça o sabor dos fármacos, portanto, para princípios ativos com sabor desagradável, esta forma farmacêutica pode ser inadequada
ü  O paciente, muitas vezes, não tem acesso a acurados sistemas de medida de volume uniforme, ou seja, o volume administrado de uma dose pode variar em relação à outra e em relação ao recomendado
ü  O sistema de medida caseira não é preciso, as colheres de um mesmo tipo podem possuir diferentes tamanhos

Xaropes são formas farmacêuticas preparadas à base de açúcar e água, onde o açúcar está próximo à saturação, formando uma solução hipertônica. A proximidade da saturação, evita a precipitação do açúcar utilizado. São soluções límpidas, aquosas e não estéreis de consistência viscosa e densos, apresentando densidades entre 1,30 e 1,3. São compostos por açúcares, como a sacarose, em concentração próxima à saturação, conferindo valor energético ao medicamento e com função edulcorante e conservante. Nunca devem apresentar álcool na composição.
O fato do xarope apresentar concentração de açúcar quase igual a concentração necessária para ocorrer a saturação é porque assim a disponibilidade de água é pouco, diminuindo a possibilidade de contaminação microbiana. Caso o xarope apresentasse saturação, poderia ocorrer um precipitado, resultado indesejável uma vez que diminui o efeito do conservante. Quando a quantidade de açúcar é insuficiente, pode ocorrer a fermentação, já que microrganismos encontram um meio ideal para se desenvolver. Aquecimento em demasia causa hidrólise da sacarose, com precipitação de açúcar invertido e perda de água pela evaporação.
Quando não se destinam ao consumo imediato, devem ser adicionados conservantes antimicrobianos. Alguns fatores contribuintes que podem interferir na qualidade do medicamento são agentes atmosféricos (oxigênio e gás carbônico); calor, que pode causar a hidrólise e caramelização da sacarose; exposição à luz, responsável pela catálise diversa e a proliferação bacteriana.
A utilização de xaropes é importante pela facilidade da aceitação na área pediátrica, minimiza o gosto desagradável de um possível fármaco na fase líquida, pode ser nele incorporada qualquer substância hidrossolúvel estável em solução aquosa e são considerados um bom veículo de administração de fármacos antitussígenos e anti-histamínicos. Os flavonizantes, presentes nos xaropes, são produtos sintéticos ou naturais que conferem sabor agradável (edulcorantes), já os corantes, às vezes utilizados, tornam o xarope mais atraente, mas devem combinar com o flavinizante, não apresentar reatividade, ser estável em relação ao pH e as condições de intensidade de luz.

Vantagens dos Xaropes:
ü  Boa conservação: por serem hipertônicos, desidratam os microrganismos que sofrem plasmólise
ü  São apropriados para fármacos hidrossolúveis
ü  Possibilitam a correção de sabor da formulação (efeito edulcorante)

Desvantagens:
ü  O xarope oficinal (à base de sacarose) e as formulações magistrais preparadas com o mesmo, são contra-indicadas para pacientes diabéticos (para estes pacientes deve ser utilizado o xarope dietético).
Os xaropes podem ser produzidos a quente (há o aquecimento do xarope) e a frio (sem aquecimento do xarope).

Xaropes a quente:

Vantagens:
ü  Dissolução rápida do açúcar
ü  Esterilização
ü  Eliminação do gás carbônico que provoca hidrólise da sacarose
ü  Eliminação de microrganismos

Desvantagens:
ü  Não indicado para substâncias voláteis
ü  Xaropes amarelados pela caramelização do açúcar
ü  Temperaturas muito altas causam hidrólise da sacarose, produzindo açúcar invertido (dextrose e frutose), alterando o dulçor (mais doce), mais escuro e mais suscetível a contaminação microbiana (caramelização da sacarose)

Xarope a frio:

Vantagens:
ü  Evita a inversão da sacarose
ü  Maior estabilidade

Desvantagens:
ü  Não destrói os microrganismos presentes na água ou na sacarose
ü  Xarope menos corado
ü  Processo de produção mais demorado
Fatores que podem desencadear a alteração dos xaropes:
ü  Agentes atmosféricos (oxigênio e anidrido carbônico)
ü  Aquecimento (facilita hidrólise e a caramelização da sacarose, e alteração do fármaco). Açúcar invertido = 1mol glicose + 1mol frutose
ü  Exposição à luz (alteração dos fármacos, catálise)
ü  Interações dos componentes do xarope (reação entre os fármacos, adjuvantes e sacarose)
ü  Proliferação microbiana (adição de conservantes: metil e propilparabenos)
Para ser caracterizado como xarope a solução precisa ser uma preparação aquosa caracterizada pela alta viscosidade, que apresenta não menos que 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua composição. Os xaropes geralmente contém agentes flavorizantes.

O xarope deve ser embalado e armazenado em recipientes adequados, de vidro de âmbar, ao abrigo da luz e à temperatura ambiente. Sua validade quando mantido em ambiente seco e à temperatura ambiente é de cerca de 3 meses. Acondicionamento:
ü  Frascos de vidro vedados com batoque e tampa
ü  Temperatura de armazenagem
·        estabilidade de componentes termossensíveis
·        evaporação da água e subsequente condensação forma, na superfície,um filme de água propício ao crescimento de microrganismos
ü  Frascos com capacidade adequada ao volume acondicionado:
·        diminuição do ar minimiza efeitos de oxidação da formulação
diminuição do espaço vazio minimiza a área de evaporação da água e melhora característica de conservação microbiana



Vamos preparar três soluções: um xarope simples, um xarope de iodeto de potássio e um xarope diet. O que iremos usar?

Xarope simples

sacarose .................................... 85%
água destilada ............ q.s.p.* ..... 100ml



Xarope de iodeto de potássio

iodeto de potássio ............. 3,0g
ácido cítrico ...................... 1,0g
metilparabeno ................... 0,1g

xarope simples ....... q.s.p.* .... 100ml


Xarope diet

CMC ...................................... 1%
glicerina .................................. 5%
sacarina ................................... 0,05%
benzoato de sódio .................. 0,3%
essência ............................... q.s.
corante ................................... q.s.
água destilada ........ q.s.p.* ... 100ml

    * q.s.p. = quantidade suficiente para

     Mas, afinal, para que serve cada um destes produtos?


ü  Sacarose – agente doador de viscosidade (agente espessante), conservante contra o crescimento microbiológico e edulcorante
ü  Iodeto de potássio – estabilizante
ü  Xarope simples – usado com veículo
ü  Água destilada – usada como veículo
ü  Ácido cítrico – substância usada como eflorescente, antioxidante sinergista ou acidulante (agente acidificante)
ü  Nipagin (metilparabeno) – conservante antifúngico
ü  CMC (carboximetilcelulose) – agente suspensor (agente doador de viscosidade, utilizado para reduzir a velocidade de sedimentação de partículas (drogas) dispersadas em um veículo no qual elas não são solúveis) ou agente floculante (utilizado com o objetivo de evitar a formação de agregados ou flocos)
ü  Glicerina – em formulações tópicas e cosméticas, a glicerina é utilizada por suas propriedades umectantes e emolientes. Em formulações parenterais (injetáveis) é principalmente utilizada como solvente. Em formulações de uso oral a glicerina é utilizada como agente edulcorante, antimicrobiano e doador de viscosidade.
ü  Sacarina – agente edulcorante não-calórico usado para adoçar (edulcorar) preparações farmacêuticas
ü  Benzoato de sódio – conservante antifúngico
ü  Essência – composição aromática
ü  Corante – usado para dar cor às preparações farmacêuticas

Xarope simples

Começamos calculando quanta sacarose iremos usar para preparar o xarope (o professor pediu para que preparássemos 50ml de solução ao invés de 100ml).
50ml          100%

x                 85%
x = 42,5 g

      Pesamos 42,5g de sacarose em um béquer e solubilizamos em um pouco de água destilada (devemos tomar cuidado para não passar de 50ml). Depois de solubilizada a sacarose na água, levamos o béquer para a chapa de aquecimento (importante: o aquecimento não pode passar de 70° - 75°C, se a temperatura passar desse intervalo acontece a hidrólise do açúcar e gera o açúcar invertido, e perdemos todo o xarope que estamos preparando). Quando a sacarose com água ficou viscosa e translúcida, tiramos o béquer da chapa e vertemos o conteúdo em um cálice. Completamos o q.s.p. para 50ml com água destilada. A nossa solução ficou pronta.


Xarope de iodeto de potássio

Como o professor nos pediu para preparar 50ml de xarope de iodeto de potássio, vamos usar metade dos valores pedidos para cada matéria-prima:ü  Iodeto de potássio à 1,5g
ü  Ácido cítrico à 0,5g
ü  Nipagin (metilparabeno) à 0,05g
ü  Xarope simples à q.s.p. 50ml
Pesamos todas as matérias-primas. Aproveitamos que o xarope simples estava um pouco quente e solubilizamos o nipagin nele em um cálice. Depois solubilizamos o iodeto de potássio e o ácido cítrico no cálice com o nipagin solubilizado no xarope simples. Completamos as 50ml de xarope simples e homogeneizamos. Assim, obtemos a solução que nos foi pedida.

Xarope diet

Nessa formulação não precisamos calcular quanto de cada matéria-prima precisamos pesar porque o q.s.p. é para 100ml, então a porcentagem descrita acima é o valor de gramas que devemos pesar. Então devemos pesar:ü  CMC à 1g
ü  Glicerina à 5g
ü  Sacarina à 0,05g
ü  Benzoato de sódio à 0,3g
ü  Água destilada à q.s.p. para 100ml
Depois de todas as matérias-primas pesadas, trituramos o CMC em um gral de vidro. Depois colocamos a glicerina junto do CMC e solubilizamos (preparamos uma gominha). Em um béquer solubilizamos a sacarina e o benzoato de sódio em aproximadamente 50ml de água destilada. Vertemos a sacarina e o benzoato solubilizado na água para o gral com o CMC e a glicerina. Homogeneizamos bem para não ficar nenhum grumo (se o CMC não for bem solubilizado forma grumos, o que não é interessante para a formulação de um xarope).
Vertemos o conteúdo do gral para um cálice e completamos as 100ml com água destilada. Homogeneizamos. Por último adicionamos a essência e o corante, homogeneizando. Obtemos a solução que nos foi pedida pelo professor.
Observação: nesse xarope usamos a sacarina no lugar da sacarose, porque esse tipo de xarope é para pessoas diabéticas. Essas pessoas não podem ingerir açúcar, por isso não podemos usar a sacarose.





5 comentários:

  1. oi estou fazendo um relatório sobre xaropes e a profe pediu pra responder a seguinte pergunta
    Por que é desnecessária a adição de conservante em xaropes de iodeto?
    eu não acho em lugar nenhum uma resposta! vc saberia responder?
    obrigada

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    1. Janaina, já faz mais de anos que estudei a parte de farmacotécnica, mas se não estou muito enganada, em xaropes de iodeto não há necessidade de adicionar conservantes devido ao fato do iodeto já ter ação antimicrobiana (que conserva o produto, dispensando então o uso de outro conservante).

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    2. Primeiramente a concentração do xarope desfavorece o crescimento de bactérias. E o segundo ponto é que a presença do nipagin (conservante) favorece ao não crescimento de fungos também. É preciso pensar que a formulação é sempre tão concentrada que torna-se impossível a sobrevivência de micro-organismos. Contudo, após a abertura do frasco, existem outros fatores que podem ser necessários determinados cuidados e alterações na formulação.

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  2. OBRIGADA PELA INFORMAÇÕES, ME FORAM MUITO ÚTEIS. NOS MEUS ESTUDOS.

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