domingo, 22 de março de 2015

Fórmulas Magistrais #5 - Suspensões

     Hoje é dia de conhecermos a quinta publicação da série sobre fórmulas magistrais: as suspensões. Aproveite e boa leitura!

     IMPORTANTE: não tentem fazer isso em casa! Todas as fórmulas que serão descritas nessa série de postagens são para fabricação por profissionais da área. Fizemos as mesmas na faculdade sob supervisão de um professor.

Suspensões

Suspensões são formas farmacêuticas compostas por duas fases: líquida (contínua) e sólida (interna, descontínua e dispersa). As partículas sólidas são insolúveis na fase líquida, mas, através de agitação podem ser facilmente suspensas. A fase interna (sólida) não atravessa o papel de filtro, por este motivo, as suspensões não devem ser filtradas.
As suspensões são utilizadas para formulações de uso oral (suspensão oral), uso tópico na pele e em mucosas e uso parenteral.
Algumas suspensões orais já vêm prontas para o uso, ou seja, já estão devidamente dispersas num veiculo líquido com ou sem estabilizantes e outros aditivos farmacêuticos. Outras preparações estão disponíveis para uso na forma de pó seco, destinado a ser misturado com veículos líquidos. Este tipo de produto geralmente é uma mistura de pós que contém fármacos, agentes suspensores e de dispersão; essa mistura, ao ser diluída e agitada com uma quantidade especificada do veículo (geralmente água purificada), forma uma suspensão apropriada à administração, chamada suspensão extemporânea.
Esta forma em pó é ideal para veicular fármacos instáveis em meio líquido (ex.: antibiótico betalactâmicos).

Vantagens das Suspensões Orais:
ü Forma farmacêutica ideal para veicular princípios ativos insolúveis em veículos, normalmente utilizada em formulações líquidas
ü Forma farmacêutica ideal para dispersar formas farmacêuticas sólidas, (ex.: comprimidos) devidamente pulverizados, na forma líquida para pessoas com dificuldade de deglutição
ü Opção de forma farmacêutica para veicular fármacos de sabor desagradável, pois a forma de suspensão realça menos o paladar dos mesmos, quando comparada à forma de solução. Esta forma farmacêutica pode ser flavorizada e edulcorada, adaptando-se às preferências de paladar do paciente
ü Em suspensões, o fármaco se encontra finamente dividido, portanto, sua dissolução ocorre rapidamente nos fluidos do TGI (trato gastrointestinal). A velocidade de absorção de uma droga veiculada na forma de suspensão é geralmente mais rápida, quando comparada a forma sólida oral e mais lenta, quando comparada à forma de solução. A velocidade de absorção de uma droga em uma suspensão depende da viscosidade (produtos mais viscosos liberam mais lentamente a droga)
ü Apresenta maior estabilidade quando comparada às soluções
ü Por estar dispersa e não solubilizada, a droga está mais protegida da rápida degradação ocasionada pela presença de água
ü Drogas instáveis quando em contato com o veículo, podem ser preparadas na forma de suspensão extemporânea (forma de pó para reconstituição caseira)
ü Drogas que se degradam em soluções aquosas podem ser suspendidas em fase não aquosa, por exemplo, em óleos

Características de uma Boa Suspensão:
ü Tamanho das partículas - Devem ser reduzidas (micronizadas) a um tamanho que resulte em homogeneidade, geralmente entre 0,5 a 3 microns de diâmetro. O tamanho reduzido das partículas sólidas é uma característica muito importante, pois evita que as mesmas se sedimentem facilmente, facilitando também sua redispersão e prevenindo ainda, a formação de cristais. O tamanho das partículas dispersas deve permanecer constante por longo períodos de repouso. Uma boa suspensão deve sedimentar lentamente e voltar a dispersar-se facilmente com a agitação suave do recipiente.
ü Fluidez - Quanto mais viscosas, mais estáveis serão as suspensões . Porém, o excesso de viscosidade compromete o aspecto e a retirada do medicamento do frasco. A suspensão deve escoar com rapidez e uniformidade do recipiente. Uma boa suspensão deve apresentar estabilidade química, física e microbiológica. A Lei de Stoke fornece informações sobre quais parâmetros influenciam na sedimentação de partículas em uma suspensão, informações estas úteis, na farmacotécnica para controlar e retardar a velocidade de sedimentação. As consequências básicas desta equação são que a velocidade de sedimentação das partículas suspendidas em um veículo, de uma dada densidade, será maior para partículas maiores do que para partículas menores.
Além disso, quanto maior for a densidade das partículas, maior será a velocidade de sedimentação. Aumentando-se a viscosidade do meio, dentro de certos limites, para que a suspensão permaneça fluida e escoável, se reduz a velocidade de sedimentação das partículas sólidas da droga. Portanto, o decréscimo da sedimentação das partículas sólidas em uma suspensão, pode ser obtido pela redução do tamanho das partículas a serem dispersadas e pelo aumento da densidade e da viscosidade da fase contínua (líquida).

Composição Básica de uma Suspensão
ü Fármaco sólido a ser disperso: devem ser micronizados em um gral com auxílio de um pistilo, por levigação, com o veículo viscoso ou com agentes de levigação (ex.: glicerina, propilenoglicol e veículo com o agente suspensor).
ü Agente Suspensor: é usado para aumentar a viscosidade e retardar a sedimentação.
ü Agentes floculantes: são utilizados com o objetivo de evitar a formação de agregados ou flocos. Esses agentes são divididos em surfactantes, polímeros hidrofílicos, argilas e eletrólitos. Alguns agentes floculantes:
• Lauril sulfato de sódio (0,5 a 1,0%)
• Docusato sódico (0,01 a 1,0%)
• Polisorbato 80 (tween®80) - (0,1 a 3%)
• Monooleato de sorbitano (span 80) - (0,1 a 3,0%)
• Polietilenoglicol 400 - (até 10%)
• Colóides hidrofóbicos (ex. goma xantana, Veegun®, CMC, etc)
• Argilas (ex. bentonita)
• Cloreto de sódio (até 1%)
• Fosfato diácido de potássio.
A floculação é um processo no qual as partículas se agrupam formando aglomerados frouxos. A defloculação é o oposto, ou seja, a quebra dos aglomerados em partículas individuais.
ü Agentes umectantes: são acrescidos nas formulações de suspensões, com o objetivo de auxiliar a dispersão da droga. São eles: surfactantes, glicerina, propilenoglicol, polietilenoglicol 400, sorbitol, álcool, dentre outros.
ü Outros adjuvantes farmacotécnicos utilizados: edulcorantes, flavorizantes, corantes, corretores de pH, tampões e conservantes.
ü Veículos: podem ser edulcorados e conter agentes suspensores.

Suspensão de hidróxido de alumínio:
ü Indicações: hiperacidez, refluxo gastroesofágico, gastrite, úlcera péptica, hérnia de hiato e tratamento de hiperfosfatemia.
ü Posologia: adulto: 300mg a 500mg VO, 4 vezes ao dia, entre as refeições e ao deitar.
ü Contra indicação: hipersensibilidade aos sais de alumínio, hipofosfatemia, porfiria, pacientes menores de 6 anos, pacientes com obstrução intestinal, gravidez e lactação.
ü Efeitos adversos: constipação intestinal, cãibras abdominais, náusea, vômito, descoloração das fezes,  hipofosfatemia e hipomagnesemia.
ü Interações: pode reduzir a absorção de indometacina, preparações contendo ferro, isoniazida, alopurinol, benzodiazepínicos, deflazacorte, penicilamina, fenotiazinas, sulipiridas, antagonistas dos receptores H2, cetoconazol, itraconazol, inibidores da ECA, losartan, azitromicina, cefaclor, ciprofloxacina, norfloxacina, rifampicina, tetraciclinas, fenitoína, gabapentina, cloroquina, hidroxicloroquina, zalcitabina, bifosfonatos, digoxina, salicilatos, lansoprazol e difluzinal. Aumenta a excreção urinária de salicilatos. Pode aumentar a irritação gástrica com medicamentos de liberação entérica.
ü Precauções: pode ocorrer intoxicação alumínica e osteomalácea em pacientes com uremia. Usar com cautela na insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência renal, edema, cirrose, dietas hipossódicas, presença de hemorragia gastrointestinal. Idosos apresentam maior incidência de constipação.

Solução de calamina (Caladryl®)
ü Indicações: é um antipruriginoso, indicado para aliviar os sintomas provocados pelas picadas de insetos, irritação causada por plantas, para o alívio do ardor, ardência e urticária causadospela queimadura solar ou outras irritações da pele de pequena intensidade.
ü Posologia: Lavar a pele com água e sabão, secar bem antes de cada aplicação. Aplicar a loção na região afetada 3 ou 4 vezes ao dia. CALADRYL® é medicamento para ser aplicado exclusivamente sobre a pele.
ü Contra indicação: é contra-indicado em pacientes que apresentam hipersensibilidade (alergia) aqualquer componente da fórmula. CALADRYL® não deve ser aplicado sobre bolhas, feridas ou áreas cutâneas com secreção. Não deve ser usado em varicela (catapora) ou sarampo, exceto sob orientação médica. CALADRYL® é contra-indicado em crianças menores de 2 anos de idade.
ü Efeitos adversos: A reação adversa mais comum é a sensação de queimação na pele. Além dessa, podem ocorrer outras reações como alergia após exposição ao sol, dermatite de contato, e eczemas. Também podem ocorrer sintomas gerais tais como: secura na boca, insônia, tremores e/ou irritabilidade.
ü Interações: não deve ser usado concomitantemente com outro medicamento contendo difenidramina.
Precauções: não deve ser utilizado em áreas extensas da pele ou por mais de 7 dias, exceto sob orientação médica. Após a aplicação deve-se evitar a exposição ao sol, devido à possível reação de fotossensibilidade (neste caso, a área afetada pode piorar). CALADRYL® é destinado somente para uso externo, devendo ser utilizado com cuidado na área próxima aos olhos, evitando o contato com os olhos ou outras membranas mucosas (por exemplo, boca ou nariz). CALADRYL® contém cânfora, por isso, pode ser prejudicial se for ingerido. A cânfora não pode ser aplicada nas narinas de crianças mesmo em pequenas quantidades, pois pode causar reações graves imediatas. Informe a um médico o aparecimento de reações desagradáveis, tais como dermatite de contato, reações fotoalérgicas (alergia causada pela exposição à luz solar), secura na boca, insônia, tremores e/ou irritabilidade. Na ocorrência de erupções na pele e sensação de queimação ou reações indesejáveis que possam ser eventualmente atribuídas ao tratamento, suspenda o medicamento, lave a área com água e sabão e comunique a um médico. Não use outro medicamento contendo difenidramina enquanto estiver utilizando CALADRYL®.



Para a preparação das duas suspensões (suspensão de hidróxido de alumínio e suspensão de calamina) são necessárias as seguintes matérias-primas:


Suspensão de hidróxido de alumínio

hidróxido de alumínio .......................... 6,0g
sacarina sódica .................................... 0,1g
nipagin .................................................. 0,1g
álcool etílico .......................................... q.s.
essência de menta ................................ q.s.
glicerina .................................................. 25ml
CMC sódica ............................................ 0,1g

água destilada .......................................... 100ml

Suspensão de calamina (Caladryl®)

calamina ................................................ 10,0g
cloridrato de difenidramina ...................... 20,0mg
cânfora ................................................. 0,1g
nipagin .................................................. 0,1g
álcool etílico .......................................... q.s.
tween 80 ................................................... 1 gota
glicerina .................................................. 2,0ml
CMC sódica ............................................ 1,0g
água destilada .......................................... 100ml


     Mas, afinal, para que serve cada um destes produtos?

ü  Hidróxido de alumínio – reduz a carga ácida total em virtude da reação de neutralização do ácido clorídrico. Desta forma as quantidades de íons hidrogênio, para retrodifusão através da mucosa gastrintestinal, diminuem
ü  Álcool etílico – segundo solvente mais utilizado, diminui a possibilidade de hidrólise, tem conservação indefinida e pode ser misturado com água
ü  Água destilada – usada como veículo
ü  Nipagin (metilparabeno) – conservante antifúngico
ü  CMC (carboximetilcelulose) sódica – agente suspensor (agente doador de viscosidade, utilizado para reduzir a velocidade de sedimentação de partículas (drogas) dispersadas em um veículo no qual elas não são solúveis) ou agente floculante (utilizado com o objetivo de evitar a formação de agregados ou flocos)
ü  Glicerina – em formulações tópicas e cosméticas, a glicerina é utilizada por suas propriedades umectantes e emolientes. Em formulações parenterais (injetáveis) é principalmente utilizada como solvente. Em formulações de uso oral a glicerina é utilizada como agente edulcorante, antimicrobiano e doador de viscosidade.
ü  Sacarina sódica – agente edulcorante não-calórico usado para adoçar (edulcorar) preparações farmacêuticas
ü  Essência – composição aromática
ü  Calamina – protetor tópico da pele e adstringente
ü  Cloridrato de difenidramina – anti-histamínico de primeira geração
ü  Cânfora – utilizada com sedativo cutâneo, nas contusões, luxações e dores reumáticas, proporcionando uma sensação de refrescância na pele
ü  Tween 80 – agente floculante utilizado com o objetivo de evitar a formação de agregados ou flocos

Suspensão de hidróxido de alumínio

Começamos pesando todos os itens que iriamos usar. Primeiro solubilizamos a CMC sódica em água destilada em um gral de vidro (sempre adicionando água aos poucos, para não criar grumos). Depois de solubilizada a CMC nas 100ml de água, transferimos pro cálice e deixamos em repouso.Solubilizamos o nipagin em uma pequena quantidade (q.s.) de álcool etílico e depois solubilizamos o nipagin na glicerina.
No béquer em que pesamos o hidróxido de alumínio incorporamos a glicerina com o nipagin e a sacarina e solubilizamos bem. Depois de aproximadamente 30 minutos de repouso vertemos o conteúdo do béquer no cálice com a CMC e homogeneizamos. Por último colocamos 3 gotas de essência de menta.

Suspensão de calamina (Caladryl®)

Nessa suspensão o professor pediu para que fizéssemos a manipulação da maneira que considerássemos correta. Nosso grupo fez da maneira descrita abaixo.Assim como na suspensão de hidróxido de alumínio, começamos pesando todos os itens que iriamos usar. Primeiro solubilizamos a CMC sódica em água destilada em um gral de vidro (sempre adicionando água aos poucos, para não criar grumos). Depois de solubilizada a CMC nas 100ml de água, transferimos pro cálice e deixamos em repouso.
Solubilizamos o nipagin em uma pequena quantidade (q.s.) de álcool etílico e depois solubilizamos o nipagin na glicerina.
Depois de aproximadamente 30 minutos de repouso vertemos a calamina, o cloridrato de difenidramina, a cânfora e a glicerina com nipagin no cálice com a CMC e homogeneizamos. Por último colocamos 1 gota de tween 80.

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