segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Vasilisa, a Bela

Hoje eu quero compartilhar a história de Vasilisa, a Bela, de Aleksandr Afanasev, extraída do livro Contos de Fadas (edição, introdução e notas Maria Tatar; tradução Maria Luiza X. de A. Borges - 1. ed. com. e il. - Rio de Janeiro: Zahar, 2013. pag. 186-198).

Vasilisa, a Bela
Aleksandr Afanasev

     Era uma vez um rico negociante que vivia num reino distante. Embora tivesse sido casado por doze anos, tinha só uma filha, e ela era chamada Vasilisa, a Bela. Quando Vasilisa tinha oito anos, sua mãe adoeceu. Chamou a filha para junto de si, tirou uma boneca de debaixo da coberta e deu-a à menina, dizendo: "Ouça, Vasilisuchka. Preste atenção às minhas últimas palavras e lembre-se do que vou lhe dizer. Estou morrendo e tudo que posso deixar para você é minha bênção de mãe, com esta boneca. Leve a boneca aonde quer que você vá, mas não a mostre a ninguém. Se estiver em apuros, basta lhe dar um pouco de comida e aguardar seu conselho. Depois de comer, ela lhe dirá o que fazer." A mãe deu na filha um beijo de despedida e morreu.
     Após a morte da mulher, o negociante cumpriu o luto de maneira adequada e começou então a pensar em se casar de novo. Era um homem bonitão e não lhe era nada difícil encontrar noiva, mas preferiu uma certa viúva. Essa viúva tinha duas filhas quase da mesma idade de Vasilisa, e o negociante achou que ela daria uma boa dona de casa e uma boa mãe. Assim casou-se com ela, mas estava errado, pois a mulher não se revelou boa mãe para Vasilisa.
     Vasilisa era a menina mais bonita de toda a aldeia, e a madrasta e as irmãs postiças tinham inveja de sua beleza. Atormentavam-na, dando-lhe todo tipo de trabalho para fazer, na esperança de que ficasse esquelética de tanto mourejar e com a pele queimada e gretada pela exposição ao vento e ao sol. E, de fato, Vasilisa levava uma vida desgraçada. Mas suportava tudo sem queixas e tornava-se mais encantadora a cada dia, enquanto a madrasta e as irmãs, que passavam o dia inteiro sentadas aqui e ali sem fazer nada, iam ficando chupadas e feias por causa da sua maldade.
     Como foi que tudo isso aconteceu? As coisas teriam sido diferentes sem a boneca. Sem a ajuda dela a menina nunca teria dado conta de tanto trabalho. Havia alguns dias que Vasilisa não comia nada de nada. Esperava até que todos estivessem na cama e então se trancava no quarto onde dormia. Dando à boneca um gostosa petisco, dizia: "Coma isto, bonequinha, e ouça meus infortúnios. Moro na casa de meu pai, mas estou privada de alegria. Essa minha madrasta vai ser a minha morte. Diga-me como eu deveria viver e o que deveria Fazer." Primeiro a boneca comia, depois aconselhava Vasilisa e a consolava em seu sofrimento. De manhã, ela cuidava de todos os serviços enquanto Vasilisa descansava na sombra e colhia flores. A boneca arrancava as ervas daninhas dos canteiros, regava os repolhos, ia buscar água no poço e acendia o fogão. Chegou a mostrar a Vasilisa uma erva que a protegeria contra queimaduras de sol. Graças à boneca, a vida de Vasilisa era fácil.
    Os anos se passaram e Vasilisa cresceu, chegando à idade de se casar. Todos os rapazes da aldeia queriam se casar com ela, e não davam nem uma olhadinha para as filhas da madrasta. A madrasta passou a detestar Vasilisa ainda mais. Declarava a todos os pretendentes: "Não pretendo casar a caçula antes das mais velhas." Depois descarregava sua raiva dando bofetadas cruéis em Vasilisa.
     Um dia o pai de Vasilisa teve de partir para terras distantes numa longa viagem de negócios. A madrasta mudou-se para uma casa à beira de uma densa floresta. Numa clareira dessa floresta havia uma choupana, e na choupana morava Baba Iaga, que nunca permitia a ninguém chegar perto dela e comia pessoas como se fossem frangos. A mulher do negociante tinha tal ódio de Vasilisa que, na nova casa, costumava mandar a enteada entrar na mata para buscar uma coisa ou outra. Mas Vasilisa sempre voltava sã e salva. Sua boneca lhe mostrava o caminho e a mantinha longe da choupana de Baba Iaga.
     Numa noite de outono a madrasta deu um serviço para cada uma das filhas. Disse à mais velha para fazer renda, mandou a segunda cerzir meias e Vasilisa, fiar. Depois apagou todas as velas da casa, menos a que estava no quarto onde as meninas trabalhavam. Por algum tempo elas executaram suas tarefas tranquilamente. Depois a vela começou a fumegar. Uma das irmãs postiças pegou uma tesoura e fingiu aparar o pavio, mas o que de fato fez, seguindo as ordens da mãe, foi apagar a vela, como se por acidente.
     "E agora, o que vamos fazer?" disseram as irmãs postiças. "Não há luz na casa, e não estamos nem perto de terminar nossos serviços. Alguém tem de correr à casa de Baba Iaga para buscar fogo."
     "Eu não vou", disse a moça que estava fazendo rendo, "pois consigo ver com a luz de meus bilros."
     "Eu não vou", disse a moça que estava cerzindo meias, "pois consigo ver com a luz de minhas agulhas de tricô."
     "Isso significa que você tem de ir", ambas gritaram para a irmã postiça. "Depressa! Vá visitar sua amiga Baba Iaga!" E empurraram Vasilisa porta afora.
     Vasilisa foi para o seu quartinho, arrumou a ceia que preparara para sua boneca, e disse: "Vamos, bonequinha, coma e me ajude na minha aflição. Elas querem que eu vá buscar fogo na casa de Baba Iaga, e ela vai me comer." A boneca ceou. Seus olhos reluziam como duas velas. "Não tenha medo, Vasilisuchka", ela disse. "Vá aonde a mandam ir. Só não esqueça de me levar com você. Se eu estiver no seu bolso, Baba Iaga não poderá lhe fazer mal."
     Vasilisa preparou-se para sair, pôs a boneca no bolso e fez o sinal da cruz antes de partir para a espessa floresta. Tremia de medo ao caminha pela mata. De repente um cavaleiro passou a galope por ela. Seu rosto era branco, estava vestido de branco e montava um cavalo branco com rédeas e estribos brancos. Depois disso, tudo começou a clarear.

Fonte: https://fairytalelandstories.wordpress.com/2013/07/19/baba-yaga-e-vasilisa-a-bela-de-alexander-afanasyev/

     Vasilisa penetrou ainda mais na floresta, e um segundo cavaleiro passou a galope por ela. Seu rosto era vermelho, estava vestido de vermelho, e montava um cavalo vermelho.  Depois o sol começou a despontar.

Fonte: https://fairytalelandstories.wordpress.com/2013/07/19/baba-yaga-e-vasilisa-a-bela-de-alexander-afanasyev/

     Vasilisa andou a noite inteira e o dia inteiro. Tarde na segunda noite, chegou à clareira onde ficava a choupana de Baba Iaga. A cerca em torno dela era feita de ossos humanos. Caveiras, com buracos no lugar dos olhos, miravam das estacas. O portão era feito com ossos de perna humana; os ferrolhos eram feitos de mãos humanas; e o cadeado era um maxilar com dentes afiados. Apavorada, Vasilisa ficou pregada no lugar.
     De repente mais um cavaleiro passou a galope por ela. Seu rosto era negro, estava vestido de negro e montava um cavalo negro. Ele galopou até a porta de Baba Iaga e desapareceu, como se a terra o tivesse engolido. Depois caiu a noite. Mas não ficou escuro por muito tempo. Os olhos de todas as caveiras começaram a brilhar, e a clareira ficou iluminada como o dia. Vasilisa arrepiou-se de terror. Queria fugir dali, mas não sabia para que lado ir.

Fonte: https://fairytalelandstories.wordpress.com/2013/07/19/baba-yaga-e-vasilisa-a-bela-de-alexander-afanasyev/

     Fez-se um barulho medonho na mata. As árvores estalaram e gemeram. As folhas secas farfalharam e chiaram. Baba Iaga apareceu, voando num almofariz que esporeava com seu pilão e varrendo seus rastros com uma vassoura. Avançou até o portão, parou e farejou o ar à sua volta. "Fum, fum! Este lugar está cheirando a menina russa! Quem está aí?"
     Tremendo de medo, Vasilisa aproximou-se da velha bruxa, fez uma profunda reverência e disse: "Sou eu, vovó. Minhas irmãs postiças me mandaram buscar fogo."
     "Pois não", disse Baba Iaga. "Conheço suas irmãs muito bem. Mas antes de eu lhe dar fogo você deve ficar aqui e trabalhar para mim. Senão, vou comê-la no jantar." Em seguida virou-se para o portão e gritou: "Desaferrolhai-vos, meu fortes ferrolhos! Abri-vos, meus largos portões!" Os portões se abriram e Baba Iaga entrou, conduzindo seu almofariz com um assobio estridente. Vasilisa seguia-a e depois tudo voltou a se fechar.
     Baba Iaga entrou na choupana, estirou-se num banco e disse a Vasilisa: "Estou com fome. Traga-me o que estiver no forno!" Vasilisa foi acender uma vela nas caveiras na cerca e começou a servir Baba Iaga a comida tirada do forno. Havia o bastante para alimentar dez pessoas. Trouxe kvas, hidromel, cerveja e vinho da adega. A velha comeu e bebeu tudo que foi posto diante dela. só deixando para Vasilisa uma tigela de sopa de repolho, uma crosta de pão e uma sobra de porco.
     Baba Iaga preparou-se para dormir e disse: "Amanhã, depois que eu sair, trate de varrer o quintal, limpar a choupana, fazer o jantar, lavar a roupa e ir até a tulha catar um alqueire de trigo. E se não tiver terminado quando eu voltar, como você!" Depois de dar as ordens, Baba Iaga pôs-se a roncar. Vasilisa tiro a boneca do bolso e pôs os restos da comida de Baba Iaga diante dela. "Pronto, boneca, coma um pouco e me ajude! Baba Iaga deu-me tarefas impossíveis e ameaçou me comer se eu não cuidar de tudo. Ajude-me."
     A boneca respondeu: "Não tenha medo, Vasilisa, a Bela! Jante, faça suas preces e vá dormir. Uma noite bem-dormida é o melhor conselheiro."
     Vasilisa levantou cedo. Baba Iaga já estava de pé, andando de um lado para outro. Quando Vasilisa olhou pela janela, viu que as luzes nos olhos das caveiras estavam se apagando. Então o cavaleiro branco passou por ali galopando e o dia rompeu. Baba Iaga foi até o quintal e deu um assobio. Seu almofariz, pilão e vassoura apareceram. O cavaleiro vermelho passou por ali como um relâmpago e o sol despontou. Baba Iaga sentou-se em seu almofariz, esporeou-o com seu pilão e saiu varrendo seus rastros com a vassoura.

Fonte: https://storybooksandustyattics.wordpress.com/2012/02/25/vasilisa-a-bela/

     Sozinha, Vasilisa correu os olhos pela choupana de Baba Iaga. Nunca tivera tantas coisas para fazer em sua vida e não conseguia decidir por onde começar. Mas, vejam só, o trabalho já estava todo feito! A boneca estava catando os últimos pedacinhos de palha do trigo. "Você me salvou!" Vasilisa disse à boneca. "Se não fosse por você, eu seria devorada esta noite."
     "Agora tudo que tem a fazer é preparar o jantar", disse a boneca enquanto subia para o bolso da menina. "Trate de cozinhá-lo com a bênção de Deus e depois descanse um pouco para ficar forte."
     Ao pôr do sol Vasiilisa arrumou a mesa e esperou por Baba Iaga. Escureceu e, quando o cavaleiro negro passou galopando, a noite caiu. A única luz vinha das caveiras na cerca. As árvores estalaram e gemeram; as folhas secas farfalharam e chiaram. Baba Iaga estava chegando. Vasilisa saiu ao seu encontro. "Todo o serviço foi feito?" Baba Iaga perguntou. "Veja com seus próprios olhos, vovó", Vasilisa respondeu.
     Baba Iaga percorreu toda a choupana. Ficou aborrecida por não ter nada do que se queixar, e disse: "Muito bem." Em seguida grito: "Minhas servidoras fieis, minhas amigas queridas, moei o trigo!" Três pares de mãos apareceram. Pegaram o trigo e desapareceram com ele. Baba Iaga comeu até se fartar, aprontou-se para dormir e mais uma vez deu tarefas para Vasilisa. "Amanhã", ordenou, "faça exatamente como hoje. Depois tire as sementes de papoula da tulha e espane a poeira, grão por grão. Alguém jogou poeira nas tulhas só para me aborrecer." Baba Iaga se virou e se pôs a roncar.
     Vasilisa foi dar comida para sua boneca, que comeu tudo na sua frente e repetiu as mesmas palavras que dissera no dia anterior. "Reze a Deus e vá dormir. Tudo será feito, Vasilisuchka."
     Na manhã seguinte Baba Iaga partiu outra vez em seu almofariz. Com a ajuda da boneca, Vasilisa terminou o serviço num piscar de olhos. A bruxa velha retornou ao entardecer, examinou tudo e exclamou: "Minhas servidoras fieis, minhas amigas queridas, espremei o óleo destas sementes de papoula." Três pares de mãos apareceram, pegaram o caixote de sementes de papoula e desapareceram com ele. Baba Iaga sentou-se para jantar. Enquanto comia, Vasilisa permaneceu em silêncio perto dela.
     "Por que não fala comigo?" Baba Iaga perguntou. "Fica aí como se fosse muda."
     "Não me atrevo a falar", disse Vasilisa, "mas se me der permissão, há lago que gostaria de perguntar."
     "Pergunte à vontade!" disse Baba Iaga. "Mas tome cuidado. Nem toda pergunta tem uma boa resposta. Se souber muito, ficará velha logo."
     "Oh, vovó. só quero perguntar sobre algumas coisas que vi no caminho para cá. Quando estava vindo para cá, um cavaleiro com o rosto branco, montando um cavalo branco e vestido de branco me alcançou. Quem era ele?"
     "Aquele era o dia claro", Baba Iaga respondeu.
     "Depois um outro cavaleiro me alcançou. Tinha um rosto vermelho, montava um cavalo vermelho e estava vestido de vermelho. Quem era ele?"
     "Aquele é meu sol vermelho", Baba Iaga respondeu.
     "Então quem era o cavaleiro negro que encontrei junto o seu portão, vovó?"
     "É a minha noite escura. Todos os três são meus fiéis servidores."
     Vasilisa lembrou-se dos três pares de mãos, mas ficou de boca calada.
     "Não quer perguntar mais nada?" indagou Baba Iaga.
     "Não, vovó, isto é o bastante. Você mesma disse que quanto mais se sabe, mais depressa se envelhece."
     "Você é bem ajuizada", disse Baba Iaga, "perguntando só sobre coisas que viu fora da minha casa, não dentro dela. Não gosto que saibam dos meus assuntos, e quando as pessoas ficam curiosas demais, eu as devoro. Agora tenho uma pergunta para você. Como conseguiu fazer todo o trabalho tão depressa?"
     "Fui ajudada pela bênção de minha mãe", disse Vasilisa.
     "Ah, então foi assim!" Baba Iaga deu um grito estridente. "Fora daqui, filha abençoada! Não quero ninguém abençoado na minha casa." Arrastou Vasilisa para fora do quarto e a empurrou portão afora. Depois pegou uma das caveiras de olhos flamejantes da cerca, espetou-a na ponta de uma vara e deu-a à menina, dizendo:
     "Aqui tem fogo para suas irmãs postiças. Tome-o. Foi isto que veio buscar, não foi?"
     Vasilisa correu para casa, usando o fogo da caveira para iluminar o caminho. Ao alvorecer o fogo se extinguiu e ao anoitecer ela chegou em casa. Quando estava se aproximando do portão, quase jogou a caveira fora achando que àquela hora suas irmãs postiças já tinham arranjado fogo, mas ouviu uma voz abafada vindo da caveira: "Não me jogue fora. Leve-me para sua madrasta." ela olhou para a casa da madrasta e, vendo que não havia nenhuma luz na janela, resolveu entrar com a caveira. Pela primeira vez a madrasta e as irmãs postiças a receberam gentilmente. Contaram-lhe que, desde a partida dela, não tinham tido nenhum fogo em casa. Não tinham conseguido acender nenhuma vela sozinhas. Tinham tentado trazer uma acesa da casa dos vizinhos, mas ela se apagava assim que transpunha a soleira.

Fonte: http://vikaatelier.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html

     "Talvez seu fogo dure", disse a madrasta. Vasilisa entrou em casa com a caveira, cujos olhos começaram a fitar a madrasta e as duas irmãs. Aquele olhar começou a queimá-las. Tentaram se esconder, mas os olhos as seguiam aonde quer que fossem. Pela manhã estavam transformadas em três montinhos de cinzas no chão. Só Vasilisa permaneceu intocada pelo fogo.
     A menina enterrou a caveira no jardim, trancou a casa e foi para a cidade mais próxima. Uma velha senhora sem filhos deu-lhe abrigo e ali ela ficou morando, esperando a volta do pai. Um dia disse à mulher: "Estou cansada de ficar aqui sem nada para fazer, vovó. Compre para mim o melhor linho que achar. Assim pelo menos posso fiar um pouco."
     A velha senhora comprou do melhor linho das redondezas e Vasilisa pôs-se a trabalhar. Fiava com a rapidez de um raio, e seus fios eram uniformes e finos como cabelo. Fiou uma grande quantidade de fio. Estava na hora de começar a tecê-lo, mas não havia pentes finos o bastante para o fio de Vasilisa e ninguém se dispunha a fabricar um. Vasilisa pediu ajuda à boneca. A boneca disse: "Traga-me um pente velho, uma lançadeira velha e uma crina de cavalo. Farei um tear para você." Vasilisa fez o que a boneca disse, foi dormir e na manhã seguinte encontrou um maravilhoso tear à sua espera.
     Antes que o inverno terminasse o linho estava tecido. Era tão fino que passava pelo buraco de uma agulha. Na primavera o linho foi alvejado, e Vasilisa disse à velha senhora: "Vovó, venda este linho e guarde o dinheiro para você."
     A velha senhora contemplou o tecido e perdeu a respiração. "Não, minha filha. Ninguém pode usar um linho como este a não ser o czar. Vou levá-lo para o palácio."
     A velha senhora foi até o palácio do czar e começou a andar para lá e para cá sob as janelas. O czar a viu e perguntou: "O que você que, vovó?"
     "Vossa majestade," ela respondeu, "trouxe uma mercadoria rara. Não quero mostrá-la a ninguém senão a vós."
     O czar ordenou que levassem a velha senhora à sua presença e, quando ela lhe mostrou o linho, ele o admirou assombrado. "O que quereis por ele?" perguntou.
     "Não posso cobrar nenhum preço por ele, paizinho czar! É um presente." O czar agradeceu e cobriu-a de mimos.
     O czar mandou que fossem feitas camisas do linho. Elas foram cortadas, mas ninguém conseguiu encontrar uma costureira disposta a costurá-las. Por fim ele convocou a velha senhora e disse: "Você foi capaz de fiar e tecer este linho. Deve ser capaz de costurar camisas com ele para mim."
     "Não fui eu quem fiou e teceu este linho, Vossa Majestade", disse a mulher. "Isto é obra de uma moça a quem dei abrigo."
     "Muito bem, então que ela costure as camisas", o czar ordenou.
     A velha senhora voltou para casa e contou tudo a Vasilisa. "Eu sabia o tempo todo que teria de fazer esse trabalho", Vasilisa lhe disse. E, trancando-s em seu quarto, pôs-se a costurar. Trabalhou sem parar e logo uma dúzia de camisas estava pronta.
     A velha senhora levou as camisas ao czar. Vasilisa se banhou, penteou o cabelo, vestiu suas melhores roupas e se sentou junto à janela para ver o que aconteceria. Viu um dos servos do czar entrar no pátio. O mensageiro foi até a sala e disse: "Sua Majestade que conhecer a costureira que fez suas camisas e recompensá-la com suas próprias mãos."
     A menina compareceu perante o czar. Quando ele viu Vasilisa, a Bela, apaixonou-se perdidamente. "Não, minha bela", disse. "Nunca a deixarei. Será minha esposa."
     O czar tomou as belas mãos brancas de Vasilisa e a fez sentar-se ao seu lado. O casamento foi celebrado imediatamente. Logo depois o pai de Vasilisa regressou. Ficou radiante com a boa fortuna da filha e foi morar na casa dela. Vasilisa levou também a velha senhora para sua casa e carregou a boneca no bolso até o dia da sua morte.

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