A
Química Forense vem melhorando cada vez mais suas técnicas para identificação
de drogas ilícitas, responsáveis por alterações no sistema nervoso central
(SNC), em diversos ambientes do nosso cotidiano. As drogas de abuso, dentre
elas o álcool, a cocaína e a maconha, são responsáveis por modificações
emocionais, de humor, pensamento e comportamento, gerando sensações
consideradas agradáveis aos seus usuários.
Várias
áreas da sociedade vêm utilizando as análises químicas para verificar o uso
destas substâncias no ambiente de trabalho, nos esportes, além do uso no
acompanhamento e auxílio de recuperação de usuários em clínicas de tratamento,
além do seu uso com finalidade em análises forenses.
Dentre as
técnicas que podem ser utilizadas, as que irão gerar quantificações seguras e
detalhadas são a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPCL) e a
Cromatografia Gasosa Acoplada ao Espectro de Massas (GC/MS).
Estas
técnicas podem ser realizadas em diversas amostras biológicas, como urina,
sangue, suor, cabelo, saliva. As mesmas vêm sendo necessárias, afinal servem
para separar e identificar, com segurança, compostos químicos, além de oferecer
rapidez na análise e capacidade de estudo de amostras complexas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo, mas que tem
propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em
seu funcionamento. O uso continuado das mesmas causa dano ao indivíduo, afinal
pode modificar, inibir ou reforçar funções orgânicas.
O uso destas substâncias ocorre devido à
necessidade de conseguir efeitos agradáveis para um individuo ou mais. No
entanto, este efeito vai tornando-se problemático quando a necessidade é tão
grande, que domina a vida de pessoa e prejudica toda a sua qualidade de vida, o
que acaba gerando também dano à comunidade.
As drogas são classificadas como
depressores, estimulantes ou perturbadoras. Os depressores, álcool, geram depressão
do SNC, assim como anestésicos voláteis. A depressão leve gera falta de
interesse e incapacidade de concentração. Conforme esse quadro vai avançando,
ocorre letargia ou sono, diminuição do tônus muscular, diminuição da capacidade
de se movimentar e diminuição da percepção de sensações como dor, calor e frio.
Os casos acentuados podem levar à inconsciência ou coma, perda de reflexos, insuficiência
respiratória e morte.
Já os estimulantes, cocaína, pode gerar
desde estímulos leves (vigília, alerta mental e diminuição da fadiga) até
estímulos mais fortes, responsáveis por hiperatividade, loquacidade, nervosismo
e insônia. Em quadros excessivos pode levar a convulsões, arritmias cardíacas e
morte. No caso das drogas perturbadoras, maconha, são responsáveis por afetar
pensamentos, percepção e humor do usuário, tornando-os distorcidos e
semelhantes aos sonhos. Mesmo não alterando a velocidade dos estímulos
cerebrais, podem perturbar a mente do indivíduo.
O álcool é responsável pela depressão do
SNC, agindo mais rapidamente nesta região do que em qualquer outra região do
corpo. É responsável por diversos casos de violência associados pela embriaguez,
pois sempre está ligado à alterações de comportamento devido aos efeitos
psicofarmacológicos. Pode gerar euforia quando em contato com o organismo do
ser humano. Sua concentração é variada entre organismos, dependendo de
parâmetros como a absorção intestinal, o volume de distribuição pelo corpo e a
taxa de metabolismo. Pode-se considerar também idade, sexo, peso, quantidade de
álcool ingerido diariamente, entre outros.
As análises para identificação do álcool
podem ser realizadas, principalmente, com sangue e/ou ar exalado. A técnica
utilizada é a Cromatografia Gasosa (GC), devido ao fato de ser eficaz para
substâncias voláteis, independente de possuirmos uma matriz sólida ou líquida.
Esta droga é extraída das folhas da Erythroxylum coca, tendo uma potente
ação como anestésico local e estimulante do SNC. Pode chegar ao consumidor em
forma de sal, que pode ser diluído em água e usado intravenoso, ou por meio de
uma base, o crack, que apresenta características voláteis quando aquecido.
Formas na qual a cocaína pode chegar
ao consumidor
Como a cocaína causa efeito estimulante, o
indivíduo apresenta, após o uso, sinais de alerta e autoconfiança aumentados,
sensação de vigor e euforia, além da diminuição do apetite. Seu efeito é rápido
e com duração curta. O consumo de álcool associado à cocaína gera resultados
mais graves, afinal o etanol aumenta a “vontade” de consumir a cocaína, levando
à intoxicação grave, podendo aumentar as chances de morte do usuário.
Também conhecido por Cannabis sativa, é utilizada tanto para fins medicinais quanto para
fins recreacionais. O Δ9-tetra-hidrocanabinol (THC) é seu principal ativo,
responsável pelos efeitos da droga. Apesar de metade doo ativo ser perdido na
queima da droga, este composto tem alta afinidade com lipídios, o que facilita
a penetração pelo sangue, além de gerar mudanças na membrana celular.
A maconha possui ação mais rápida quando
inalada, dentre zero e dez minutos, com pico de ação em trinta minutos. O THC,
em contato com o sistema nervoso, gera efeitos alucinógenos e depressores
semelhantes aos gerados pelo LSD, dentre eles sensação de relaxamento e
bem-estar, associados com uma sensação de consciência sensorial aguçada. Também
pode gerar efeitos como prejuízo da memória e da coordenação motora, apetite
aumentado, taquicardia, vasodilatação, indução da pressão intra-ocular e
broncodilatação. Quando usada de maneira exagerada pode gerar ansiedade,
confusão, paranoia, agressividade e psicose tóxica. Sua confirmação é feita por
meio da GC/MS.
As
análises visam a detecção de substâncias tóxicas, usando principalmente dois
tipos de testes laboratoriais: os baseados em fluídos corporais e os baseados
em amostras de queratina. A janela de detecção dos fluídos é relativamente
curta, aproximadamente 2 a 3 dias, quando comparada com a detecção de amostras
de queratina, que podem chegar a 6 meses.
Existem
variadas técnicas para identificação destas substâncias, como reações
volumétricas ou colorimétricas, no entanto as mais usadas são as técnicas
espectrofotométricas e cromatográficas.
A
cromatografia gasosa (GC) é usada para fins analíticos e permite a separação de
substâncias voláteis arrastadas por um gás através de uma fase estacionária,
sólida ou líquida, que propicia a distribuição dos componentes da mistura entre
as duas fases através de processos fisioquímicos. Na fase móvel é usado o gás
de arraste, que transporta a amostra através da coluna cromatográfica até o
detector. Este método é limitado à necessidade de amostras voláteis ou estáveis
termicamente.
A técnica de espectrometria de
massas (MS) estuda as massas dos átomos, moléculas ou fragmentos de moléculas. Para
a obtenção de um espectro de massa, as moléculas são ionizadas, então os íons
são acelerados em um campo elétrico e separados conforme sua massa e sua carga
elétrica. Nesta técnica, um espectrômetro de massa bombeia uma substância com
elétrons para produzir íons, que atravessam um campo magnético, responsável por
separar estes íons em padrões de espectro de massa, usualmente associado a GC
ou HPLC. Isto faz com que a análise quantitativa de pequenas quantidades de
amostras seja possível.
A cromatografia líquida de alta
eficiência (HPLC) é muito aplicada à separação de solutos de diferentes
polaridade, massas molares e funcionalidades químicas. Essa técnica possui
adaptabilidade para determinações quantitativas, com boa sensibilidade,
possibilidade de separação de espécies não voláteis e termicamente instáveis;
além disso, possui aplicação em determinações ambientais e em muitos outros
campos da ciência. Dentro desta técnica, 90% dos laboratórios usam pelo menos
um método que aplica a modalidade de CLAE em fase reversa (CLAE-FR), que possui
uma fase estacionária de menor polaridade e uma fase móvel de maior polaridade,
enquanto a fase normal tem as polaridades invertidas. Estas fase apresentam
vantagens como o uso de fases móveis menos tóxicas e de menor custo, fases
estacionárias estáveis de muitos tipos diferentes, rápido equilíbrio da coluna
após a mudança da fase móvel, facilidade de empregar eluição por gradiente,
maior rapidez em análises e boa reprodutibilidade dos tempos de retenção.
As fases móveis utilizadas devem
possuir alto grau de pureza e estar livres de oxigênio ou outros gases
dissolvidos, sendo filtradas e desgaseificadas antes do uso. A bomba deve
proporcionar ao sistema vazão contínua sem pulsos com alta reprodutibilidade,
as válvulas de injeção usadas possuem uma alça de amostragem para introdução da
amostra. As colunas utilizadas são geralmente de aço inoxidável e o detector
mais utilizado é o ultravioleta. O registro de dados pode ser feito através de
um registrador, um integrador ou um microcomputador.
Tanto a HPLC quanto a CG são métodos
eficientes, no entanto a HPLC associada a MS (HPLC-MS) vem sendo a mais
eficiente para a detecção de substâncias ilegais, além de capacidade de
obtenção de um perfil químicos destas drogas.
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