segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A Esperta Grethel

Hoje eu quero compartilhar a história da esperta Grethel, extraída do livro Branca de Neve e outras histórias (Irmãos Grimm, tradução e comentários Fausto Wolff - Rio de Janeiro: Revan, 2006. pag. 63-65).

A Esperta Grethel
Jacob e Wilhelm Grimm

     Era uma vez uma cozinheira que usava sapatos com fitas vermelhas. Quando saía com eles, olhava para os pés e dizia para si mesma com voz prazerosa: "Grethel, você ainda é uma garota bem bonita". Voltava para casa muito feliz, bebia um copo de vinho e o vinho lhe dava vontade de comer. Selecionava o que havia de melhor na cozinha, com a desculpa de que "uma cozinheira deve conhecer o gosto da comida que faz".
     Um dia seu patrão lhe disse:
     - Grethel, hoje à noite teremos um convidado. Por isso quero que me prepare duas galinhas.
     - Vou tratar disso imediatamente - replicou a cozinheira. Meia hora depois ela já havia matado, depenado, cortado e temperado as duas galinhas, esperando no espeto apenas para serem assadas, o que ocorreu com a chegada da noite. As galinhas logo adquiriram a cor marrom e pareciam deliciosas. Mas o convidado não aparecia.
     Grethel disse ao seu patrão:
     - Se o convidado não chegar logo eu terei de tirar as galinhas do fogo e vai ser realmente um pecado não degustá-las quentes e recém-temperadas.
     O patrão concordou e decidiu que sairia de casa e só voltaria quando encontrasse o seu convidado. Assim que ele lhe deu as costas, Grethel tirou o espeto com as duas galinhas do fogo e pensou consigo mesma: "Já estou há muito tempo nesta cozinha. Além de sentir calor, sinto sede. Quem sabe a hora que o convidado vai chegar, se chegar? Vou até a adega beber um pouco de cerveja."
     Passou do pensamento à ação. Foi até a adega, onde abriu a torneira de um barril deixando escoar uma jarra inteira de cerveja. Bebeu e voltou correndo para a cozinha. Botou os espetos no fogo de novo, e virou-os de um lado para o outro com muita agilidade, contente que estava. Passou manteiga nas galinhas e o cheiro delicioso entrou pelas narinas. Tão apetitoso era o cheiro que ela resolveu provar um bocado. Meteu os dedos no molho e disse para si mesma: "Como essas galinhas estão deliciosas. É uma vergonha, um pecado mesmo que não sejam comidas agora que estão no ponto."
     Correu até a janela e botou a cabeça para fora, a fim de verificar se seu patrão estava a caminho com o convidado. Como não viu ninguém, voltou-se novamente para as galinhas e notou: "Uma coxa de uma está queimada. Melhor comê-la." Acabou de pensar, cortou a coxa e comeu-a. Depois, olhando para a galinha perneta, pensou: "O patrão vai notar que há algo estranho com esta galinha. Melhor eu comer a outra coxa também." Depois de comer as duas coxas, correu à janela, mas seu patrão não estava à vista. Ela pensou: "Quem me garante que eles virão? Quem me garante que não estão bebendo em algum lugar e já se esqueceram do jantar?" Este pensamento lhe deu sede e ela desceu até a adega, onde bebeu uma jarra inteira de cerveja. A cerveja lhe deu fome, ela subiu à cozinha e, com a desculpa de que seria uma pena esfriar o jantar, comeu toda a galinha sem pernas. A ave estava gostosíssima e Grethel foi até a janela, mas não havia sinal do seu patrão e do convidado. Voltou para perto do fogo e olhou amorosamente para a galinha restante. Pensou: "Onde está uma também deve estar a outra. As duas são muito amigas, e o que é justo para uma também é justo para a outra. Acho que um pouco de coragem me fará bem". Desceu à adega, bebeu outra jarra de cerveja e não precisou de muita coragem para deglutir a segunda galinha. Mal acabara de comer, seu patrão entrou na cozinha e lhe disse:
     - Apresse o jantar que meu convidado já está vindo aí.
     - Pois não, patrão. Logo, logo ele estará pronto.
     O patrão foi até a sala de jantar para ver se os pratos, talheres e copos estavam bem dispostos. Depois disso apanhou o facão com o qual pretendia dividir as galinhas e começou a afiá-lo numa pedra. Neste meio tempo o convidado bateu gentilmente na porta.
     Grethel o recebeu, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela pôs o indicador sobre os próprios lábios, pedindo-lhe que fizesse silêncio. Em seguida disse-lhe:
     - Fuja depressa. Se o meu patrão o descobrir aqui o senhor estará perdido. É verdade que ele o convidou para jantar, mas o que quer mesmo é cortar suas duas orelhas. Está ouvindo o som do metal contra a pedra?
     - Estou - disse o convidado em voz baixa.
     - Pois é o meu patrão afiando o facão para cortar suas orelhas.
     O convidado desceu as escadas que davam para a rua em desabalada carreira. Correndo também, mas não tão rapidamente, entrou a cozinheira na sala de jantar e disse para o patrão:
     - Belo convidado o senhor me arranjou!
     - O que é que você quer dizer com isso, Grethel?
     - O quê? Assim que ele botou os olhos nas duas galinhas, meteu uma num bolso do paletó e outra no outro e saiu correndo.
     - Realmente, que belos modos! - disse o patrão, sentindo no estômago vazio a falta das galinhas. Se pelo menos ele houvesse deixado uma, eu teria alguma coisa para comer.
     Dito isso saiu correndo atrás do convidado com o facão ainda na mão. Gritava para o convidado que corria uns cem metros à sua frente na noite silenciosa:
     - Somente uma! Somente uma!
     Certo de que o outro queria dizer "somente uma orelha", o convidado botou fogo nas canelas e logo se viu são e salvo, trancado dentro da sua casa.

Fonte: http://minutoreceitas.com.br/frango-assado/

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