A história dos anticoncepcionais começou há
mais de 2000 anos, onde os primeiros representantes dessa classe apresentavam
arsênico, estricnina e mercúrio, que causavam complicações tóxicas, ou até
mesmo a morte. O hormônio progesterona, componente ativo do corpo lúteo, foi
identificado em 1928 e se mostrava eficaz para proteger a gestação. Seguiram-se
as observações, onde foi identificado outro hormônio, envolvido na fertilidade,
chamado estrógeno. A partir de 1957 e, principalmente em 1963, a injeção dos
hormônios recém-isolados em mulheres inférteis, mostrou inibições das ovulações
frequentes. Assim começava o controle da fertilidade humana com o uso de esteroides.
O primeiro contraceptivo lançado continha
150 mg de estrógenos e 10 mg de progesterona, esse níveis eram altos o bastante
para manter o nível contraceptivo eficaz. Porém, para diminuir os efeitos
colaterais, as dosagens foram reduzidas para 30 mg de estrógeno e 1 mg de
progesterona. Essas concentrações são bastante efetivas, porém na presença de
alguns medicamentos, os níveis hormonais, reduzidos, podem cair ainda mais,
fazendo com que a eficácia do contraceptivo seja comprometida.
Os contraceptivos orais são
capazes de inibir a ovulação e promover o revestimento do útero, quando usados
de forma correta e regular. Apresentam uma taxa de falha relatada de 1/1000
mulheres.
Os
estrogênios são os componentes principais de vários métodos contraceptivos: pílulas
anticoncepcionais, anticoncepcionais injetáveis, anéis vaginais, sistema
transdérmico e pílulas de emergência. Formulações que possuem
estrogênio são conhecidas como contraceptivos combinados porque também possuem
progestina na composição.
Métodos contraceptivos: contraceptivos orais, anel vaginal, DIU, preservativo masculino, contraceptivos injetáveis, contraceptivos transdérmicos, diafragma contraceptivo e preservativo feminino
Nas mulheres, os esteróides são produzidos
nos ovários, no córtex das supra-renais e na placenta (durante a gestação), a
partir da síntese do colesterol nas células ovarianas. Entretanto, a
localização intracelular das enzimas responsáveis pela biossíntese dos
esteróides não é conhecida até o momento. Eles podem ser absorvidos pela pele e
pelas membranas mucosas. Estrógenos semi-sintéticos (etinilestradiol e
mestranol) e novos progestínicos são absorvidos por via oral, sendo eficazes na
regulação do ciclo e da fertilidade. O FSH (Hormônio Folículo Estimulante)
regula a estimulação dos folículos ovarianos e a produção dos estrógenos. O
estradiol, normalmente absorvido pelo trato intestinal, alcança sua
concentração plasmática máxima entre 1 e 2 horas, com eliminação entre 9 e 27
horas. A nível intestinal e hepático é conjugado com os ácidos sulfúrico e
glucurônico, sofrendo assim a chamada 1ª passagem hepática. A progesterona,
pouco antes da segunda fase do ciclo, é produzida no corpo lúteo. O LH
(Hormônio Luteinizante) é responsável pelo estímulo da secreção de progesterona,
que pode também ser convertida em estradiol.
Doses pequenas de estrógenos ou progesterona
estimulam a secreção de LH, porém doses regulares inibem a ovulação. O hipotálamo
ou os centros nervosos superiores mediam esse efeito, porém mecanismos
secundários também estão envolvidos. A anovulação também pode ocorrer por
supressão dos fatores de liberação das gonadorrelinas (RH – FSH, RH – LH), o
que impede o crescimento de folículos ovarianos, ocorrendo o mesmo quando
administrados estrógenos e progestínicos associados. Normalmente os
contraceptivos inibem a ovulação, espessando o muco cervical, dificultando a
migração espermática. Há também atrofia endometrial, o que reduz a
probabilidade de implantação.
Quando ingeridos, os estrógenos e a progesterona são
absorvidos pelo trato gastrintestinal, conduzidos até o fígado e metabolizados,
fazendo com que cerca de 42 a 58% desses hormônios não tenham atividade
contraceptiva. Os metabólitos são excretados na bile, que se esvazia no trato
gastrintestinal. Parte deles é hidrolisada por enzimas das bactérias do
intestino, liberando o estrogênio ativo que é reabsorvido, fazendo com que os
níveis plasmáticos de estrógenos circulantes aumentem. A parte remanescente é
excretada pelas fezes.
Metabolismo dos contraceptivos orais e prováveis
mecanismos de interação com os antibióticos
Fonte: CORRÊA; ANDRADE; RANALI, 1998
São indicados para mulheres que desejam
controlar a natalidade. A indicação deve ser feita após consulta médica e exame
ginecológico (com prevenção anual). Alguns médicos fogem do propósito principal
do anticoncepcional e indicam essa classe para tratamento de ovários
policísticos, ciclomastopatias, hemorragias no climatério, diminuição de dores
e cólicas menstruais, redução de sangramento menstrual, redução de nódulos
mamários benignos. A contracepção também pode ser benéfica em casos de: câncer
endometrial, carcinoma ovariano, redução de risco de cistos ovarianos, doença
pélvica inflamatória, diminuição da incidência de gravidez ectópica, mioma
uterino e endometriose.
A eficácia dos anticoncepcionais orais tem
seu perfil de segurança confirmado por várias pesquisas, principalmente com
produtos combinados e monofásicos com menos de 35 microgramas de estrógeno e
pertencente à segunda geração. A prevalência da contracepção está aumentando no
mundo inteiro. Porém, as alternativas existentes não são perfeitas e efeitos
adversos e inconveniência limitam sua aceitabilidade, pelo que muitas
gravidezes não planejadas ocorrem.
A eficiência dos contraceptivos depende dos níveis
plasmáticos de estrógeno e progesterona. O uso incorreto, como o esquecimento
da pílula e horários variáveis de ingestão, pode diminuir a eficácia
contraceptiva, pois pode haver queda dos níveis plasmáticos desses hormônios.
Vômitos e diarréia podem diminuir o tempo do medicamento no trato
gastrintestinal, diminuindo a absorção. Além disso, alguns medicamentos, como
anticonvulsivantes e antimicrobianos, podem interferir na metabolização,
fazendo com que os níveis plasmáticos sejam reduzidos (isso ocorre por termos
variações individuais no metabolismo dos contraceptivos). Estudos
observaram mulheres que faziam uso de contraceptivos e estavam em tratamento
com antimicrobianos e não apresentaram alterações nas concentrações plasmáticas
hormonais. Autores sugerem que esta interação ocorre apenas nas mulheres mais
suscetíveis, mas, por enquanto, não há como saber quais são mais suscetíveis.
Exemplos de drogas que diminuem a eficácia
dos contraceptivos orais: Antibiótico (amoxicilina, ampicilina, carbenicilina,
cloxacilina, dicloxacilina, eritromicina, oxacilina, penicilina G,
cloranfenicol e tetraciclinas), Anticonvulsivantes (carbamazepina,
difenil-hidantoína e primidona), Tranquilizantes (clordiazepóxido, diazepam em
altas doses e metadona), Agentes imunodrepressores (ciclosporinas), Vitaminas
(vitamina C).
O estrogênio faz com que o organismo
apresente sintomas semelhantes aos da gravidez e lactação. Nesse estado são
considerados sintomas como: náuseas, vômitos, tonturas, cefaléia, cansaço,
aumento de apetite e de peso. Alguns anticoncepcionais de baixa dosagem podem
causar hemorragia de escape, que pode ser controlada com o uso de 2 comprimidos
por 3 dias ou mais ou com a associação, por um curto período de tempo, de uma
série de estrógenos micronizados. Pode ocorrer também à chamada menstruação
silenciosa em 1 a 2% doas casos, não havendo a descamação do endométrio. A
diminuição progressiva do fluxo ou a repetição deste fenômeno levam a paciente,
aos poucos, a amenorreia pós-pílula. Neste caso ocorre a suspensão do uso do
anticoncepcional.
O uso prolongado de anticoncepcionais orais produz
aumento pequeno, porém significativo, na pressão sistólica e diastólica. Os
níveis pressóricos revertem ao normal com a suspensão dos hormônios. Em
pacientes hipertensas recomendando-se mudança para métodos contraceptivos não
hormonais. Em relação aos anticoncepcionais, mantém-se ainda a polêmica sobre a
associação de tromboembolismo venoso ao uso dos chamados representantes da
terceira geração.
Uma
interação importante é a que ocorre entre antimicrobianos e contraceptivos,
podendo fazer com que haja perda da eficácia contraceptiva e até mesmo uma
gravidez inesperada. Mulheres que utilizavam anticoncepcionais e faziam
tratamento de tuberculose com rifampicina apresentaram sangramentos
intermenstruais, proporcionando o primeiro relato de falha do uso de
antimicrobiano com contraceptivos. O British
Committee of Safety of Medicines relatou casos de falhas de contracepção em
mulheres que usavam contraceptivos e estavam em tratamento com antimicrobianos.
Os
antimicrobianos destroem as bactérias da flora intestinal, que hidrolisam os
conjugados, diminuindo o ciclo entero-hepático, causando redução dos níveis
plasmáticos dos estrógenos ativos. Porém, este mecanismo não explica a
interação com contraceptivos que apresentam apenas progesterona, pois seus
metabólitos não são excretados na bile como os estrógenos, por isso, falhas com
contraceptivos com apenas progesterona podem não ter relação com
antimicrobianos. A indução das enzimas microssomais do citocromo P450 no fígado
parece reduzir os níveis hormonais, acelerando o metabolismo dos mesmos. Uma
menor reciclagem de estrógenos associada com um maior metabolismo hepático
favorece a queda das concentrações hormonais, porém não há explicação
definitiva para o processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário