terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Fórmulas Magistrais #3 - Emulsões

     Hoje é dia de conhecermos a terceira publicação da série sobre fórmulas magistrais: as emulsões. Aproveite e boa leitura!

     IMPORTANTE: não tentem fazer isso em casa! Todas as fórmulas que serão descritas nessa série de postagens são para fabricação por profissionais da área. Fizemos as mesmas na faculdade sob supervisão de um professor.

Emulsões

Emulsões (cremes e loções cremosas) são mistura de dois líquidos imiscíveis, onde um deles está disperso no outro. Emulsões orais são normalmente dispersões do tipo óleo/água estabilizadas por um agente emulsionante, onde uma ou ambas as fases podem conter sólidos dissolvidos. Podem conter um ou mais princípios ativos. Os ativos sólidos podem também estar suspensos nas emulsões orais. Em emulsões do tipo o/a (óleo/água), a fase oleosa (fase dispersa) está dispersa como gotículas em uma solução aquosa (fase contínua).

Vantagens:
ü Permitem a administração de fármacos líquidos oleosos e de fármacos lipofílicos dissolvidos em óleo.
ü Não possuem a fase externa aquosa, por isto mascaram de maneira efetiva o sabor pouco agradável de alguns fármacos (como vitaminas lipossolúveis, óleo de rícino, óleo mineral e o óleo de fígado de bacalhau).
ü A fase externa aquosa apresenta maior palatabilidade e, portanto, podem ser flavorizadas.
ü A suspensão de fármacos insolúveis em um veículo emulsionado, permite obter formas de ação sustentada (suspensão emulsão), programando a liberação e a absorção dos mesmos.
Desvantagens:
ü São sistemas termodinamicamente instáveis (fases tendem a separar-se com o passar do tempo).

Características de uma boa emulsão
ü Pequenas gotículas: o tamanho das gotículas dispersas é influenciado por fatores mecânicos (método e equipamento utilizado para a mistura e cisilhamento das duas fases), pela técnica e pelos agentes emulsificantes.
ü Lenta agregação (coalescência) das gotículas dispersas, lenta cremagem (formação de nata) caracterizada pela aglomeração das gotículas dispersas na superfície (líquido disperso mais leve que o dispersante da preparação) ou lenta sedimentação no fundo (líquido dispersado mais pesado que o dispersante).
ü Se houver coalescência, ocorre uma ruptura completa e irreversível da emulsão com a separação completa das fases.
ü Se houver apenas cremagem ou sedimentação, a homogeneidade pode ser facilmente restabelecida por simples agitação.
ü A velocidade de cremagem e sedimentação seguem a Lei de Stokes.
ü Facilidade de redispersão com agitação.

Aditivação de princípios ativos em emulsões
0/A - Óleo / Água: fase interna óleo e externa água. Sensação menos oleosa, refrescância e absorção rápida. A água é a fase externa e está em contato com a pele.
A/O - Água / Óleo: fase externa óleo e interna água. Sensação mais oleosa. O óleo é a fase externa em contato com a pele.
Obs: Para descobrir se a emulsão é O/A ou A/O, acrescentar água e corante: se homogeneizar com a coloração a fórmula é aquosa; se não, é oleosa.

Componentes de Emulsões
ü Fase aquosa: água deionizada, pois o cálcio e o magnésio desestabilizam a emulsão. Depois são acrescentados os componentes solúveis, os conservantes, os edulcorantes e os aromatizantes. Nesta fase devem ser solubilizados todos os ingredientes hidrossolúveis da formulação.
ü Fase oleosa: constituída por óleos (óleo fixo, mineral, volátil ou óleo resina) ou ceras, nos quais serão acrescentados e solubilizados os ingredientes lipossolúveis.
ü Agente emulsificante: dá estabilidade à emulsão, reduzindo a tensão superficial entre o óleo e a água e retardando a separação das fases.
ü Conservantes: os conservantes previnem o crescimento de fungos e bactérias na preparação. Preferencialmente, devem ser adicionados na fase aquosa, uma vez que esta é mais susceptível à contaminação microbiana. Outros componentes da emulsão, além da água, podem favorecer o crescimento de microrganismos, tais como, agentes emulsificantes naturais (ex.: goma arábica, goma adraganta, etc), óleos como o de amendoim (podem conter espécies de Aspergillus) e parafinas líquidas (podem conter espécies de Peniciíiium). É bom lembrar que alguns agentes emulsionantes podem diminuir ou até mesmo, neutralizar o efeito de determinados conservantes (ex.:tween 80 e parabenos). Contaminantes podem ser introduzidos em uma emulsão pelos ingredientes, equipamentos (não adequadamente sanificados) ou recipientes (não devidamente sanificado ou vedado).
ü Essências, flavorizantes e/ou corantes: emulsões Orais normalmente contêm agentes flavorizantes e raramente são utilizados corantes. Deve se utilizar somente corantes permitidos para uso sistêmico. Em emulsões orais os flavorizantes e corantes devem ser hidrossolúveis, a fase externa é aquosa.
ü Antioxidantes: previnem os processos de degradação por oxidação dos óleos e gorduras. Eles devem ser, preferencialmente, solúveis na fase oleosa (ex.: BHT, BHA, Palmitato de Ascorbila, Vitamina E), entretanto, pode-se utilizar antioxidantes na fase aquosa (ex.: Acido Ascórbico, Metabissulfito de Sódio e Bissulfito de Sódio).
ü EHL (equilíbrio hidrófilo-lipófilo): é o equilíbrio entre as fases aquosa e oleosa.
ü Sequestrantes: substâncias que complexam íons metálicos, inativando-os em sua estrutura, impedindo deste modo sua ação danosa sobre os outros componentes da formulação. Age em sinergismo com os conservantes.

Preparo de Emulsões (procedimento geral)
ü Aquecer todos os componentes óleo solúveis à cerca de 70 a 75°C
ü Aquecer todos os componentes hidrossolúveis, à cerca de 70 a 75°C
ü Adicionar uma fase à outra, lentamente, agitando (a fase com maior quantidade sobre a de menor quantidade)
 Adicionar corantes, essências, hormônios, vitaminas, bioativos (matéria prima de natureza orgânica em geral) quando esfriar a cerca de 30°C



Para preparar o sabonete íntimo iremos usar:

ácido esteárico .................................... 4%
monoestearato de glicerila ................... 6,5%
vaselina líquida .................................... 12%
metilparabeno ....................................... 0,1%
propilparabeno ...................................... 0,05%
trietanolamina ........................................ 0,5%
propilenoglicol ........................................ 5%
água purificada .................... q.s.p* .......... 100g

    * q.s.p. = quantidade suficiente para

     Mas, afinal, para que serve cada um destes produtos?


ü Ácido esteárico – agente de consistência
ü Monoestearato de glicerila – agente emulsificante usado para promover ou manter a dispersão finamente subdividida em partículas de um líquido em um veículo no qual ele é imiscível. O produto final pode ser uma emulsão líquida ou emulsão semi-sólida (ex.: creme)
ü Vaselina líquida – é utilizada principalmente como excipiente em formulações tópicas, onde exerce ação emoliente. É utilizada também como solvente
ü Metilparabeno – conservante antifúngico
ü Propilparabeno – conservante anti-fúngico usado em preparações líquidas e semi-sólidas (cremes, pomadas, etc) para prevenir o crescimento fúngico. A efetividade dos parabenos é normalmente aumentada quando eles são utilizados em combinação
ü Trietanolamina – surfactante aniônico (sal orgânico) que em água possuí ação tensoativa aniônica, agente alcalinizante usado em preparações líquidas para alcalinizar o meio com o objetivo de fornecer estabilidade ao produto, agente utilizado para ajustar pH ou para tamponar
ü Propilenoglicol – tem sido amplamente utilizado como solvente, extrator e conservante em uma grande variedade de formulações farmacêuticas de uso parenteral ou não-parenteral. É utilizado como doador de viscosidade e para aumentar o tempo de permanência da droga na superfície cutânea. Apresenta ação antisséptica similar ao etanol, porém um pouco menos efetiva. O propilenoglicol é também utilizado em cosméticos como umectante, como veiculo de emulsificantes e flavorizantes
ü Água purificada – usada como veículo


Como o professor pediu para fazermos só 50g, calculamos quanto de cada matéria vamos usar na preparação da emulsão.
Ácido esteárico à
50g   –  100%
 x       –      4%
x = 2g

Meg à
50g   –  100%
 x      –   6,5%
x = 3,25g

Vaselina líquida à
50g   –  100%
 x       –    12%
x = 6g

Metilparabeno à
50g   –  100%
 x      –   0,1%
x = 0,05g

Propilparabeno à
50g   –   100%
 x       –   0,05%
x = 0,025g

Trietanolamina à
50g   –  100%
 x       –    0,5%
x = 0,25g

Propilenoglicol à
50g     –  100%
 x      –    5%
x = 2,5g

Somamos todos os valores obtidos das matéria e subtraímos pela quantidade de produto que iremos preparar para saber quanto q.s.p. iremos usar (subtraímos a quantidade de q.s.p pela quantidade de matéria-prima para saber quanta água usar).
Ácido esteárico à
Meg à
Vaselina líquida à
Metilparabeno à
Propilparabeno à
Trietanolamina à
Propilenoglicol à
2g
3,25g
6g
0,05g
0,025g
0,25g
2,5g





q.s.p. à
matéria-prima à





50g
14,075g
Total de matérias-prima à
14,075g
H2O purificada à
35,025g

Depois de pesados todos os ingredientes, em um béquer colocamos todos os ingredientes de fase aquosa (metilparabeno, trietanolamina, propilenoglicol e água purificada) e em outro béquer colocamos todos os ingredientes de fase oleosa (ácido esteárico, monoestearato de glicerila, vaselina líquida e propilparabeno).
Levamos o béquer com a fase aquosa para aquecimento. Quando a fase aquosa atingiu entre 67° – 70°C, levamos o béquer com a fase oleosa para aquecimento. Quando as duas fases chegaram a 75°C, vertemos a fase aquosa na fase oleosa.

Com a ajuda do pão duro misturamos as duas fases sem parar até chegar a uma temperatura inferior a 40°C.

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